Opinião
Igualdade de gêneros
Na semana da Mulher, vice-presidente do CRCSP, Marcia Ruiz Alcazar, fala sobre a desconstrução de preconceitos e estereótipos; o número de mulheres na Contabilidade só cresce
Na semana em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, a vice-presidente de Administração e Finanças, Marcia Ruiz Alcazar, lembra que as mulheres ainda lutam pela igualdade de gêneros, em todas as profissões, em todo o mundo.
"Esta ainda é uma preocupação global e a ONU Mulher nos inspira a realizar boas práticas quando o assunto é empoderamento feminino. Na Contabilidade, o número de profissionais registradas só cresce. No estado de São Paulo, somos 41% do total de 150 mil. A previsão é que, em 2026, o número de mulheres profissionais da contabilidade (contadoras e técnicas) seja maior que o total de homens em 1%", disse Marcia.
O que é empoderamento feminino?Acho muito inspirador o sentido figurado da palavra. "Empoderar" é passar ou ter domínio sobre a própria vida. O assunto é tão relevante que, em 2010, a ONU lançou "Os Princípios de Empoderamento das Mulheres" (Women Empowerment Principles – WEPs, sigla em inglês). São sete princípios para ajudar as empresas e as comunidades a entenderem como dar poder para mais mulheres.São inúmeras as dificuldades no mercado de trabalho, inclusive para as profissionais da contabilidade, e seguir os princípios estabelecidos pela ONU pode de fato assegurar a igualdade de gêneros tão desejada por todos nós.
Está crescendo o número de mulheres na Contabilidade?
Sim. Os quadros abaixo, com o atual número de profissionais registrados no Brasil e no Estado de São Paulo, divididos por sexo, aponta esse crescimento. Se os números seguirem esse ritmo, em 2023 o número de contadoras será maior em pelo menos 0,99. Em 2026, o número de mulheres profissionais da contabilidade (contadoras e técnicas) será maior que o total de homens em 1%. Vale lembrar que esta é uma previsão.
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BRASIL |
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Homens |
Mulheres |
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|
Contador |
Técnico em Contabilidade |
% |
Contadora |
Técnica em Contabilidade |
% |
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186.581 |
116.782 |
57,12 |
159.311 |
68.346 |
42,87 |
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Total – 303.363 |
Total 227.657 |
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ESTADO DE SP |
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|
Homens |
Mulheres |
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|
Contador |
Técnico em Contabilidade |
% |
Contadora |
Técnica em Contabilidade |
% |
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50.995 |
37.605 |
58,85 |
40.445 |
21.495 |
41,14 |
|
Total – 88.600 |
Total 61.940 |
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Recentemente, em palestra para abrir as comemorações do Dia Internacional da Mulher no CRCSP, você disse que a data deve existir não apenas para que as mulheres sejam presenteadas. Mas, principalmente, para relembrar as conquistas já alcançadas e tudo que ainda pode ser feito. Comente.
São muitas as conquistas sociais, pessoais, políticas e econômicas e é isso que temos que comemorar. Temos também que relembrar a coragem e a ousadia das nossas antecessoras e progenitoras, pois graças a elas temos hoje infinitas possibilidades. Os desafios ainda são grandes em todas as frentes. A largada foi dada e cabe a cada uma de nós avançar nessa jornada. Para alcançarmos o equilíbrio desejado, precisamos ainda ressignificar conceitos que foram estabelecidos em uma era até hoje influente, quando houve a sobreposição de valores e conduta patriarcal em relação aos valores e à conduta matriarcal. É importante destacar que não se trata de estabelecer o melhor ou pior modelo, e sim, da harmonização entre eles, combatendo todo e qualquer tipo de discriminação, independentemente de gênero, raça e cor.
A
igualdade de gêneros e o empoderamento feminino começam na infância, dentro de casa?
Sem dúvida. Existem diversas campanhas globais que abordam a questão de forma brilhante. Duas delas são muito inspiradoras: #heforshe
e a #likeagirl. Diversos vídeos estão disponíveis na internet e vale a pena pesquisar. A delicadeza do gênero feminino não deve ser tratada como fraqueza. Além disso, a visão machista é muito rigorosa ao impor aos homens exigências de sucesso e força incondicional. Emma Watson, a mais jovem embaixadora da ONU, abordou o tema de forma brilhante ao tirar do foco os problemas femininos, apresentando ao público
os percalços que o machismo traz para a sociedade, para as mulheres e para os homens. Um jeito completamente novo de abordar um problema tão antigo.
Nós profissionais da contabilidade fizemos um juramento ético perante a sociedade e devemos honrá-lo todos os dias. Ao recebermos o grau de bacharel em Ciências Contábeis, juramos, perante Deus e a sociedade, exercer a profissão com dedicação, responsabilidade e competência, respeitando as normas profissionais e éticas. Juramos pautar nossa conduta profissional observando sempre os nossos deveres de cidadania, independentemente de crenças, raças ou ideologias, concorrendo para que nosso trabalho seja um instrumento de controle e orientação útil e eficaz para o desenvolvimento da sociedade e o progresso do país. Comprometemo-nos, ainda, a lutar pela permanente união da classe contábil, o aprimoramento da Ciência Contábil e a evolução da profissão. Esses são os desafios. Independentemente de gênero, esse é o compromisso que cada contador e contadora deve sempre honrar. A Revista Brasileira de Contabilidade divulgou em 1990 um depoimento muito interessante, que me parece muito apropriado aos dias de hoje. "A história da mulher contabilista não é diferente da história da mulher como parte integrante da sociedade e que vem participando historicamente de sua construção." Não existe diferença entre a atuação feminina e a masculina na Contabilidade. O trabalho é o mesmo. O resultado é o mesmo. A diferença está na visão de quem estabelece diferenças entre homens e mulheres profissionalmente.
A luta por igualdade nos cargos e salários entre homens e mulheres é apenas uma realidade brasileira e da classe contábil?
Nem uma coisa, nem outra. Infelizmente, esse não é um assunto restrito à classe contábil e nem aos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Essa é uma preocupação global e a ONU Mulher nos inspira as boas práticas quando o assunto é empoderamento feminino. Por exemplo, se você trabalha em cargo de liderança, é seu papel incentivar mais mulheres a ocuparem cargos de liderança. Deveriam ser adotados os mesmos critérios de promoção, independentemente de gênero. É uma triste realidade, mas se constata ainda que mulheres tendem a ser mais exigidas, comprovar experiência de fato, enquanto que os homens muitas vezes são promovidos por apresentarem um potencial futuro de desenvolvimento pessoal.
Por isso as mulheres buscam tanto por especializações?
Sim. Talvez por isso que hoje o mercado de trabalho conte com uma participação maior das mulheres nos cursos de formação, pós-graduação e especializações. No mercado de trabalho contábil observa-se que as mulheres tem mais êxito no exame de suficiência do que os homens. Quando tratamos do tema igualdade de gêneros, você empodera uma mulher quando todas as mulheres e homens são tratados de forma justa no trabalho, respeita e apoia os direitos humanos e a não discriminação.
Entendo que estamos falando de competência, habilidade e atitude e isso não está relacionado a qualquer gênero, mas sim as características do comportamento humano. Padrões mais agressivos, fortes e exigentes são, por exemplo, características da energia masculina que muitas mulheres têm. Assim como padrões mais tolerantes, amorosos e flexíveis são caraterísticas da energia feminina, que muitos homens também têm. O que quero dizer é que não existe um gênero melhor do que o outro, mas o conjunto das qualidades adquiridas por cada indivíduo é que faz a diferença e essa diferença impacta diretamente nos resultado.
Qual a contribuição do CRCSP para que as mulheres apresentem todo o seu potencial e para o desenvolvimento do futuro da mulher na profissão contábil?
No CRCSP, vivemos um momento único na história da Contabilidade brasileira, com as mulheres se destacando pela liderança feminina. Nesta gestão 2016-2017, duas mulheres ocupam vice-presidências da entidade. Estou no cargo de vice-presidente de Administração e Finanças e a conselheira Neusa Prone Teixeira da Silva é a vice-presidente de Registro. Esta é a primeira vez que duas mulheres ocupam, simultaneamente, o cargo de vice-presidente da instituição. A entidade tem ainda 17 conselheiras eleitas e 23 delegadas nomeadas. O CRCSP conta com a Comissão CRCSP Mulher, que é formada por mulheres que atuam em diferentes segmentos da Contabilidade. São empresárias, funcionárias da área pública, peritas que conciliam com suas família e profissão, as atividades realizadas no Conselho. Elas ocupam cargos de conselheiras e delegadas (representantes) do CRCSP no interior do estado.
Qual o objetivo da Comissão?
É trabalhar para promover o constante aprimoramento técnico cultural da mulher que atua na Contabilidade; incentivar a participação ativa na vida política e social da comunidade; preparar a mulher para um mercado profissional extremamente competitivo; motivar e preservar com ousadia e equilíbrio a conquista do espaço profissional. O objetivo do CRCSP é que todos tenham condições de exercer a profissão de forma plena.
Existem ações da Comissão em andamento?
Claro, estamos no mês da mulher. Confira aqui
as atividades promovidas para o mês de março. Preparei também um vídeo convidando todos os profissionais, mulheres e homem, para participarem. Veja aqui.
Honrar a profissão contábil me deixa muito orgulhosa. Esta é uma escolha que fiz para minha vida, pautada pela conduta ética, pelo trabalho sério e pela lealdade ao lutar por uma classe contábil unida em nosso estado. Esse é um marco conquistado por uma equipe ousada e de verdadeiros defensores da profissão contábil.
Deixe uma mensagem para todas as mulheres que já empreendem ou que estão ingressando na profissão contábil.
A igualdade de gêneros é sua, é minha, é nossa, está em nossas mãos. Empodere! Como profissionais da contabilidade temos um papel importante: o de inspirar pessoas às melhores práticas de gestão para as melhores decisões. Participe das entidades da classe contábil. Para interferir tem que participar. Junte-se a nós!
