O realismo na pintura de Heinz Budweg pertence, sem dúvida, ao gênero narrativo. O premiado artista de origem alemã observa através de suas telas a realidade das pessoas de várias comunidades indígenas e procura fazê-las viver tanto na paisagem quanto no seu habitat, como vivem também a flora e a fauna, que pinta com cores fortes e sublimes.
Em abril, mês em que se comemora o Dia Nacional do Índio (19 de abril), é oportuno conhecermos a visão artística de quem percorreu o Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste, buscando seguir seu próprio caminho, colocando-se frente ao verdadeiro e preocupado em transmitir a comoção que o real nele suscita.
Passando da paisagem às composições mais diversas, somos sensibilizados pelas imagens que capta das mais diversas comunidades do mundo indígena, valorizando, através de sua visão pessoal, o ambiente, os personagens, suas danças e seus diversos modos de vida.
Budweg busca seguir um caminho que lhe é próprio e se preocupa em nos transmitir a realidade do mundo que o circundou ao desbravar os mais longínquos recantos do país.
Através de tipologias que se entrelaçam com uma harmonia e vibração de tons, focaliza tanto o ambiente como seus diversos personagens. Nas suas narrativas pictóricas estão presentes vitalidade e força excepcionais, que temperam e se desfazem naqueles valores atmosféricos que documentam a sua tensão em direção às raízes de uma pintura profundamente sentida como própria.
Trata-se de um homem que dedicou grande parte de sua vida à arte e que escolheu como seu destino a defesa das mais diversas causas indígenas e da Amazônia.
Emanuel von Lauenstein Massarani
Crítico de arte e representante do IPH
Heinz von Haken Budweg nasceu em Berlim, em plena Segunda Guerra Mun¬dial, e chegou ao Brasil em 1953, com 13 anos, naturalizando-se brasileiro cinco anos depois. Completou o ginásio no Colégio Visconde de Porto Seguro, em 1959, local este que também abrigou sua primeira mostra individual. Ingressou no Mackenzie, onde se formou em Eletrotécnica, cursando várias matérias complementares na Faculdade de Ciências Econômicas, como Administração de Empresas, Organização, Métodos e Tempos, entre outras.
Durante a década de 1960, iniciou suas viagens pelo interior do Brasil, visitando ao longo dos anos centenas de cidade e povoados, tendo percorrido em território nacional mais de 500 mil quilômetros, o equivalente a mais de doze voltas ao redor do planeta.
Em 1976, vivenciou o dia a dia das tribos indígenas Xerente e Krahô, em Goiás, e Urubu-Kaapor, no Maranhão. Em 1978, foi a vez das áreas do pantanal mato-grossense e das tribos dos índios Bororo, Xavante e Avê Canoeiros, estreitando profundos laços de amizade com as principais tribos da área do Alto Xingu.
Em 1980, percorreu da nascente à foz do Rio São Francisco, visitou os Sete Povos das Missões, incluindo as missões jesuíticas do Paraguai e Argentina.
Em paralelo, em 1986, explorou o Alto Rio Coluene e durante sua viagem conheceu os índios Maitipu e Yawalapeti, retornando pela mesma rota duas vezes no ano seguinte. Em 1988 explorou a Bahia, conhecendo os índios Kiriri e Pataxó.
A partir de 1989, Heinz resolveu se dedicar exclusivamente à arte e pesquisa, ocupando por vários anos a presidência da Comissão Sociocultural da Associação Cristã de Moços (ACM) Metropolitana de São Paulo-SP. Em 2003, Heinz Budweg mudou-se para São Roque-SP, onde instalou o Santuário das Artes, um espaço cultural independente.
Suas viagens em territórios indígenas o consagraram como o maior pintor vivo de índios do mundo, tendo recebido o nome de batismo indígena Agabe Werajecupê.
A partir de 1990, Heinz voltou seu interesse à pesquisa arqueológica e criou o Projeto Tapajós, cujo objetivo é descobrir a pré-história brasileira antes do período do descobrimento português. Seus grandes colaboradores nesta empreitada eram o arqueólogo e linguista Luiz Caldas Tibiriçá e o espeleólogo Guy Christiar Collet, ambos membros do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP).
Patrocinado em 1996 e 1998 por grandes empresas, realizou expedições pelo Pantanal Mato-Grossense e pelas mantas do Rio Guaporé, onde contatou a tribo dos Manduricu e fez importantes descobertas arqueológicas. Recebeu da Academia Brasileira de Arte e Cultura o título de comendador.