Através dos séculos a imagem feminina foi protagonista da criatividade artística. Vale lembrar que em fins do século 19 e início do século 20 a representação iconográfica da mulher era a de uma imagem angelical, contraposta à de uma ameaça tentadora e fonte de pecado, como acontecia na literatura simbólica e decadente dessa época.
As imagens sociais e políticas que se seguiram após a Segunda Guerra Mundial, determinaram a ruptura daquele imaginário. Paralelamente à emancipação social da mulher, desde os primeiros movimentos ela se torna a protagonista privilegiada da arte. A partir das civilizações mais antigas, seu corpo é representado como símbolo de beleza, de fecundidade e prosperidade.
É bom relembrar que uma mulher que utilizou a arte no século XX para exprimir seu próprio mundo interior foi, sem dúvida, Frida Kahlo, que na obsessão de sua própria imagem, desenvolveu sua arte em uma ação terapêutica fundamental. Entretanto, a representação da mulher também mudou desde então, motivada por contingências históricas.
Se anteriormente a artista Geanete Reinis enfocava sua criatividade em direção ao cotidiano e à natureza, hoje em sua nova fase, no início do século 21, dedica-se aos seus retratos femininos. Sua representação é o resultado de um talento raro, seja do ponto de vista surreal ou da foto realística. Pela utilização que faz dos materiais, que vão da resina às cores a óleo, ao tom pastel e à aquarela, demonstra uma formação artística bem diversificada, tanto na experimentação de novas formas como na utilização de novos pigmentos e suportes.
A sua contínua observação é colocada em suas pinturas, reunindo olhares e gestos que são aplicados à tela para que o espectador conviva com a sua experiência.
Geanete Reinis consegue com simplicidade dar vitalidade às figuras com uma luminosidade supranatural, quase atribuindo uma qualidade ultraterrena, sobretudo na representação da figura feminina. Suas obras evocam uma visão clássica, acrescida de um toque surreal que relembra os grandes mestres da arte.
Emanuel von Lauenstein Massarani
Crítico de arte e representante do IPH
Geanete Reinis cursou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP), Artes Plásticas na Faculdade Guignard, em Belo Horizonte, e Gestão Cultural no Senac, com Aldo Valentim e Maria Eugênia Malagodi, com especialização em Curadoria pela USP.
Foi presidente, durante dois anos, da Comissão de Seleção de Obras do Proac de São Paulo, a convite do secretário de Cultura.
Participou e idealizou diversos projetos aprovados pela Lei Rouanet.
Suas obras são contemporâneas, estimuladas pela criação e emoção, trilhando o caminho da razão. A obra busca o equilíbrio, onde a transparência da aquarela, entre manchas e cores, traços e pinceladas das tintas formam a imagem idealizada, e com o fogo da encáustica, a sensualidade da abstração.