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31 de janeiro de 2019 - Ano 09 - Nº 514
Carreira
 

Perca o medo!
Aprenda a falar em público


A escritora Susan Cain descreve seu "ano de falar perigosamente", em que fez brindes para pequenos grupos e deu entrevistas na rádio e na televisão, como uma maratona. A linha de chegada? Fazer uma palestra em um TED Talk para uma plateia de 1.500 pessoas sem olhar suas anotações. 

Na medida em que o dia se aproximava, a autora de O Poder dos Quietos: Como Tímidos e Introvertidos Podem Mudar um Mundo que Não Para de Falar não conseguia dormir. "Eu preferiria morrer a fazer essa palestra", ela escreveu, em um ensaio. 

Susan viveu para fazer sua TED Talk. Ao fim, ela recebeu aplausos de pé (embora ela não tenha nenhuma memória disso, porque estava "entorpecida demais") e o vídeo da palestra viralizou. 

A ansiedade de falar em público é comum, mesmo para os profissionais mais experientes. O comediante americano Jerry Seinfeld observou em uma apresentação de standup: "O medo número um das pessoas é falar em público. O número dois é a morte. Isso quer dizer que para uma pessoa normal, se você for a um funeral, é preferível estar no caixão do que fazer o discurso."

Emma Watson, que cresceu aos olhos do público interpretando Hermione nos filmes da série Harry Potter, admitiu que estava ansiosa antes de falar nas Nações Unidas. Quando ela lançou sua campanha feminista HeForShe, sua voz e suas mãos estavam trêmulas. "Eu estava muito nervosa", disse ela em uma entrevista. "Não foi algo fácil para mim."

Viv Groskop, uma autora que oferece coaching de oratória para executivos, fala sobre ansiedade e vulnerabilidade em seu livro How to Own the Room: Women and the Art of Brilliant Speaking ("Como Dominar a Sala: Mulheres e a Arte de Falar de Forma Brilhante", em tradução livre). Os conselhos tradicionais, ela escreve, não ajudam a levar as pessoas ao ponto em que elas acham que podem "fazer um discurso na realidade, e não só na sua imaginação". Para fazer isso, eles precisam achar oportunidades para treinar falar em público (há muitas quando se procura por elas), e aceitar que "nervos e ansiedade são parte da vida". 

Pessoalmente, Viv é efervescente - o que combina com alguém que também faz comédia standup. Nos encontramos porque eu quero algumas dicas para me curar da mania de fugir de tudo que envolva um palco. Ou mesmo que envolva falar algumas palavras sobre um colega que está saindo do jornal. 

Eu odeio a ansiedade que mexe com meu estômago e o pavor de ter um branco. Mas também odeio as limitações profissionais de não falar em público. E sei que agir é a única forma de superar isso. Afinal, aos 21 anos eu era tão tímida que eu precisava me desafiar a falar qualquer coisa em uma reunião. Aos poucos, foi ficando mais fácil até que eu esqueci completamente esse medo. O mesmo aconteceu com aparições na rádio e em podcasts

Viv diz que se sentir mal e ansioso não é uma boa razão para dizer "não" para situações que exigem falar em público. "Sentir ansiedade é só um sinal de que você é humano", afirma. Embora ela não ache que possa convencer todo mundo a se tornar um orador nato, ela acredita que todos devem se preparar para falar um pouco em público no trabalho. 

É como Chris Anderson, curador do TED Talk, coloca: "Ser alfabetizado em apresentações não é um adicional para poucos. É uma habilidade básica para o século 21." 

A maioria das pessoas está em empregos que exigem falar em público. Em escritórios, executivos precisam fazer apresentações para a equipe, passar sua mensagem em reuniões ou fazer entrevistas em painéis. Isso sem citar vídeos no YouTube ou o stories do Instagram. 

Os empregos mudaram. No passado, escrever livros, por exemplo, era um bom trabalho para os tímidos crônicos. Não mais. Hoje romancistas precisam sair dos seus sótãos e passar pelo circuito literário para divulgar seus livros. 

Estou nervosa porque sou uma mulher? Talvez. Mulheres tendem a ser mais críticas de si mesmas, diz Viv, que aponta que elas também são, com frequência, interrompidas e escrutinadas. "Mulheres têm medo de serem expostas".

Ela escreveu o livro para mulheres porque elas são pouco servidas quando se trata de conselhos nessa área. "Quase todos os livros escritos sobre falar em público e retórica são sobre homens, por homens, para homens", escreve ela. 

Para qualquer pessoa, homem ou mulher, ela diz, o segredo é desenvolver "confiança suficiente em você mesmo para quando você errar algo, você ser capaz de se virar. Algumas pessoas vão dizer que você errou e é uma idiota, outras não". 

No coaching, Viv normalmente discute barreiras psicológicas, experiências passadas e trabalha com a voz, projeção, ritmo e postura. Antes do discurso, ela faz com que os clientes treinem muito. 

Uma boa dica é estudar oradores que você admira - mas também entender o trabalho envolvido em chegar ao nível deles. Como Viv destaca, as pessoas precisam dar a elas mesmas a permissão para melhorar. Nunca é sobre um discurso só, sempre haverá outras oportunidades. 

Nem todo mundo pode ser tão caloroso, fluente e confiante quanto Michelle Obama. Afinal, até mesmo a Michelle Obama não foi sempre a Michelle Obama. Para ser tão polida quanto ela é hoje, ela teve que treinar e treinar, com a ajuda de equipes de coaches e estrategistas. 

O segredo é achar seu próprio estilo de apresentação, em vez de acreditar que você precisa se conformar com um tipo, diz Viv. Parte da ansiedade que as pessoas sentem, diz ela, vem de não estar convencido da mensagem que estão tentando transmitir. Em um ambiente de trabalho, isso pode ser um sinal de que seu emprego não combina com você. 

Ter algo que você realmente quer dizer é essencial. Como Emma Watson falou de seu discurso na ONU: "Eu reli meu discurso no dia anterior várias vezes e me perguntei: 'eu acredito nessa frase?' A resposta era sempre sim." 

As pessoas também têm expectativas pouco realistas da oratória. "Você não vai ser o Martin Luther King se você precisa apresentar o relatório de resultados de marketing do quarto trimestre", diz Viv. "Você só precisa fazer um trabalho decente e não passar mal."

Viv vê muitas mulheres cometerem o erro de preparar demais as mecânicas do seu discurso - o que vão falar, quais slides usar. O conselho dela? "Você deve prepará-los cedo e manter o mínimo possível". Assim como Coco Chanel sugeria tirar uma peça de joia antes de sair de casa, o mesmo acontece com a oratória - faça cortes. 

Se, como eu, você resolver falar mais em público em 2019, Viv recomenda achar um incentivo, como provar para si mesmo que você é melhor do que pensa que é. Se você se incomoda por sempre dizer não às coisas, ela recomenda criar o desafio de passar seis meses dizendo sim. Faça anotações de como isso faz você se se sentir.

Finalmente, lembre-se do contexto maior. "Ninguém vai lembrar", diz Viv. "A parte triste é que essas coisas muitas vezes são irrelevantes." 

Fonte: Valor Econômico – Emma Jacobs.