Twitter Facebook Facebook
14 de março de 2019 - Ano 10 - Nº 519
Carreira
 

Como é trabalhar com blockchain no Brasil?
Descubra


Uma moeda totalmente digital, com as transações feitas sem precisar de um banco. Em 2016, a bitcoin fez muitos profissionais correrem para entender exatamente como funcionava a criptomoeda que causava uma revolução no mundo financeiro.

O nome é blockchain, como Patrícia Demenezes descobriu ao buscar entender a tecnologia das criptomoedas. A contadora já tinha mais de sete anos de experiência na sua área e começou a investir na nova modalidade monetária.

Depois, ela passou a se aprofundar mais na área de programação, fazendo cursos e se juntando à equipe da startup GoBlockChain, que oferece conhecimento e serviços de consultoria na área.

“Vi que nada mais é que mexer com códigos. Ainda sou iniciante, mas já estou dividida: sou metade contadora, metade programadora. É um desafio muito gratificante para mim começar a me inovar aos 30 anos”, fala ela.

Embora a bitcoin tenha colocado o holofote sobre a tecnologia, Henrique Leite, fundador da GOBlockchain, garante que ela abre a porta para infinitas possibilidades.

Em sua explicação simples: blockchain é uma forma de guardar informações em bancos de dados. E isso é feito de forma que certifica que esses dados fiquem seguros e inalterados no complexo mundo digital.

Ao traduzir o nome dado a essa tecnologia, é possível formar uma imagem mental de como ela funciona: são blocos de registros das informações ligados em rede.

No caso das criptomoedas, ou mesmo para qualquer transferência bancária, cada bloco possui dados para a transação com sua data, hora, minutos e segundos. Isso gera um apelido, um endereço único para o bloco.

Quando é adicionada uma nova informação, ela cria um vínculo com o anterior, utilizando o apelido do primeiro bloco. A cadeia vai se formando e fica distribuída por servidores diferentes. Assim, nada do que é feito online se perde ou pode ser fraudado.

A aplicação dessa inovação vai muito além do mercado das criptomoedas. Empresas, cidades e indivíduos podem se beneficiar do que pode ser uma revolução na forma como qualquer dado é armazenado e acessado.

“O blockchain gera mais eficiência, redução de custos e transparência. Se aplicada em uma cadeia de alimentos, eu vou comprar um ovo orgânico e ter acesso a todo o histórico do produto. Além de saber quem produziu e quem transportou, posso garantir que as normas de qualidade foram respeitadas, a validade não foi adulterada”, fala ele.

Um paciente poderia guardar para sempre e sem papéis todos os exames, consultas, remédios e vacinas da sua vida. Henrique Leite imagina como cidadãos poderiam auxiliar no funcionamento e manutenção da cidade trocando sua interação com objetos por pontos ou moedas.

Segundo ele, a colaboração em rede é o coração dessa tecnologia.

“Venho de um ramo que ainda é muito quadrado, as pessoas são fechadas e não compartilham conhecimento. Na área de tecnologia e com o blockchain, as pessoas são muito engajadas em se ajudar e disseminar o que aprenderam”, comenta Patrícia.

Na startup, ela e Henrique fazem parte da equipe de programadores que não possui hierarquia e eles desenvolvem projetos em conjunto para clientes interessados em novas soluções usando o blockchain. Cada um ganha uma remuneração proporcional ao trabalho realizado, sem existir um chefe.

O uso para substituir documentos tem chamado a atenção de muitos profissionais fora da área de TI, como aconteceu com a Patrícia Demenezes e a onda da bitcoin. Muitos advogados têm procurado se atualizar na linguagem de programação para entender como trabalhar com smart contracts.

Esse novo tipo de documento une a linguagem legal com a programação, que garante que as cláusulas acordadas estão sendo cumpridas pelas partes que assinar o contrato.

“É mais normal encontrar engenheiros de software e desenvolvedores procurando os cursos sobre blockchain, no entanto cada vez mais advogados têm procurado se atualizar para saber ler esse novo tipo de contrato, que é a tendência para a área. Também temos empresas da área médica e de seguros querendo se atualizar”, fala Leite.

Até mesmo o seu currículo pode ser afetado pelo blockchain. De acordo com estudos da Michael Page com projeções sobre o futuro dos currículos, o documento, seu histórico profissional e todos os certificados serão digitais.

O clássico CV se tornará uma plataforma interativa com auxílio de assistentes virtuais e segurança e credibilidade asseguradas pelo blockchain.

Fonte: Exame – Luísa Granato.