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30 de maio de 2019 - Ano 10 - Nº 530
Carreira
 

Planejamento da carreira mudou
Existe um novo conceito de sucesso profissional

As transformações do mercado de trabalho e o desenvolvimento da sociedade vêm trazendo novos contornos nas definições de sucesso profissional. O próprio conceito de carreira vem mudando.

Durante muito tempo, desde o início da organização formal do trabalho industrial há mais de 100 anos, a carreira era definida como uma sequência de cargos. O sucesso era medido pelo nível de evolução ao longo da trajetória profissional. A estrutura era piramidal e definida no clássico organograma recheado de descrições de cargos e níveis hierárquicos.

O planejamento de carreira era baseado na definição de metas para atingir cargos. Então, para ser um diretor comercial ou o presidente de empresa, o profissional tinha que atingir diversas metas de carreira.

Naquela época, as estruturas permitiam e favoreciam esse pensamento. Uma sequência pré-definida pela organização de passos e cargos para que as pessoas fossem evoluindo ao longo dos anos. Esse conjunto de conceitos dominou o mercado de trabalho por muito tempo e ainda está enraizado no modelo mental de muitos profissionais. Por essa razão, um grupo de pessoas ainda espera por um plano de carreira da empresa e o debate sobre carreira ainda se restringe ao diálogo sobre cargos e salários.

A partir da revolução tecnológica e da competição global do final do século passado, esses conceitos foram mudando. O desenho de carreira mudou, seja pela dinâmica de uma nova economia que não permite previsibilidade, ou pela demanda de uma sociedade que passou a questionar mais.

Diante disso surge um novo conceito de carreira, que é definido por um conjunto de experiências significativas para o indivíduo. Ou nas palavras do idealizador dessa nova abordagem, Douglas T. Hall: "Carreira é uma sequência de experiências pessoais de trabalho ao longo do tempo".

O sucesso profissional é medido pelo quanto o profissional consegue implementar seus objetivos e se realizar. Isso não significa necessariamente atingir posições elevadas ou ter o cargo mais alto. O projeto de carreira deve ser construído a partir das experiências que ele acumula ao longo da vida. Não falamos mais em sequenciamento de cargos ou plano de carreira.

Como definiu o brilhante pesquisador Mark Savickas, as carreiras não surgem, são construídas. Essa é uma jornada de cada profissional. O planejamento de carreira contemporâneo é feito pela definição de objetivos gerais que possam nortear as ações. É fundamental pensar o futuro e ter clareza sobre seu protagonismo. Mas, isso não significa definir objetivos fixos como um cargo ou uma empresa para trabalhar.

A construção dessa estratégia pode incluir ideias amplas que permitam fazer movimentos nessa direção. Por exemplo, um macro objetivo de carreira pode ser assumir posições de gestão ou ter uma carreira internacional. Ou ainda, optar por uma carreira técnica e se desenvolver como especialista. O alvo é móvel e não há um caminho pré-definido.

Nesse conceito mais ampliado de carreira, também temos que pensar que ela não se restringe a ser funcionário de uma empresa. Construir alternativas de renda, empreender e pensar em trabalho além do emprego tradicional também são formas de planejar a carreira.

As experiências que vão formando a carreira podem ser diversas e não necessariamente estar em uma organização. Emprego formal é uma das maneiras de trabalhar, mas não é a única. O empreendedor também tem uma carreira e precisa pensar nas suas estratégias de desenvolvimento.

Cabe a cada um buscar este repertório e informações para desenhar estratégias e construir seu projeto de carreira. Para as organizações contemporâneas, fica o desafio de criar oportunidades para que as pessoas realizem seus projetos na empresa.

Já para os que acham utopia pensar em uma empresa que favoreça seus funcionários na realização de seus projetos, o desafio está em aumentar o engajamento das pessoas.

No novo mundo do trabalho não há mais espaço para líderes que imponham seu modelo de carreira. Para aqueles que quiserem seguir no antigo, restará reclamar da falta de talentos e assistir a mediocridade triunfar ao seu redor, porque os mais talentosos irão embora na busca de empresas conectadas ao seu tempo.

Fonte: Valor Econômico - Rafael Souto.