Twitter Facebook Instagram Facebook
6 de fevereiro de 2020 - Ano 11 - Nº 564
Carreira
 

Como lidar com a raiva no ambiente profissional?
O importante é entender a origem do sentimento

Somos seres humanos passíveis de experimentar emoções com diferentes níveis de intensidade em qualquer ambiente ou situação, inclusive no trabalho. Porém, existe uma ideia completamente equivocada de que excelentes profissionais suprimem os seus sentimentos em prol da produtividade e da construção de ambientes harmoniosos.

Esta ideia surgiu de uma distorção do conceito de inteligência emocional que invadiu as empresas na década de 1990. Gestores e profissionais não estudavam a fundo o conceito e entendiam que ser emocionalmente inteligente era ser capaz de abafar ou alterar emoções vistas como negativas (raiva, medo, tristeza, ansiedade, preocupação etc.) para que os objetivos da empresa fossem alcançados.

Isto não deu certo. Os ambientes profissionais se tornaram ainda mais estressantes nos últimos anos favorecendo o surgimento de emoções complexas. Sem uma estratégia adequada para dar lidar e processar efetivamente estas emoções, muitos colaboradores pagaram o preço com a sua saúde. Nas últimas décadas, elevou-se o número de profissionais afastados por transtornos mentais, mesmo com a maior difusão de informações e métodos de tratamento.

Precisamos pontuar que emoções e trabalho ainda são tabus que precisam ser desenvolvidos. Afinal, é comum um profissional com crise de pânico ser mal visto pela sua liderança e interpretado como um colaborador fraco. Isto, também, pode ser notado no baixo índice de profissionais que buscam processos terapêuticos para desenvolver a sua inteligência emocional.

Infelizmente, no trabalho, muitos profissionais acham que fazer coaching é bacana e fazer terapia é sinal de maluquice. Sendo que cada metodologia tem uma proposta completamente diferente e não são estruturas de desenvolvimento padrão (avalie o seu cenário com um profissional para entender o que é mais adequado no seu caso).

A raiva é um sentimento ainda muito pouco explorado. É quase proibido você sentir e explorar a sua raiva no ambiente de trabalho. Tirando algumas poucas áreas de negócio e modelos de empresa mais agressivas, em qualquer outro ambiente, sentir raiva pode ser interpretado como despreparo.

Mas lembre-se: você é um ser humano e sentirá raiva. Ir contra a sua natureza não é saudável e a sua mente cobrará este preço em algum momento. Portanto, descreverei alguns passos para lidar da maneira adequada com a raiva que possa sentir.

Passo 1 – Reconhecer a raiva e aceitar

Primeiro passo é identificar os momentos em que tem raiva. Ter consciência sobre isso pode ser difícil para você, mas os outros percebem com facilidade. Portanto, peça para um colega de trabalho avisar toda vez que você se exaltar ou demonstrar comportamentos de raiva.

Assim, você poderá entender melhor em quais situações ou com quais pessoas sente raiva. Geralmente situações nas quais se sente frustrado por não atingir um objetivo, atacado de maneira injusta ou por perceber pessoas tendo atitudes muito diferentes das suas são possíveis fontes de raiva.

Passo 2 – Identificar a motivo que leva à raiva

Ao identificar os momentos nos quais a raiva aparece, é necessário dar um passo maior rumo à consciência. O que faz você sentir raiva? É uma situação, um ambiente ou uma pessoa específica? Você se sente irritado porque percebe as pessoas fazendo coisas erradas, por não ouvirem ou por não lhe darem atenção? A sua raiva surge apenas em um ambiente de pressão ou quando está frente a um colaborador mentiroso e desonesto?

Entenda o gatilho que dispara a sua raiva. Às vezes esse gatilho não tem nenhum fundamento, pois desejamos que as pessoas tenham atitudes que nos teríamos (e essa é uma expectativa muito distorcida, pois todas as pessoas são diferentes e ninguém terá o mesmo comportamento que você). Às vezes você sentirá raiva por mostrarem as suas falhas ou por não ter controle de uma situação. O importante é entender a origem do sentimento!

Passo 3 – Permitir sentir a raiva com naturalidade

Após o entendimento das situações que geram raiva, naturalmente, a emoção já diminui de intensidade. Em alguns casos, ela já desaparece para aquela situação específica. Porém, se mesmo tendo consciência desde sentimento, ele se mantiver e com alta intensidade, tudo bem. Lembre-se que sentir raiva é ser humano e isto é saudável. Não sinta que é um problema grave e que precisa de atenção.

Ter em mente que apresentar emoções é natural fará com que processe esse momento da forma adequada, dissipando-as com o tempo. Enquanto atuar contra as suas emoções, achando errado sentir raiva, mais ela tende a ficar presa dentro de você e consumi-lo. As emoções são mensagens da sua mente para alertar de algo. Se ignorar esses recados, a sua mente enviará essas mensagens cada vez com mais força.

Passo 4 – Definir formas de dar vazão à raiva

Ter uma válvula de escape para a raiva é super saudável. Você aplicar a sua raiva em situações socialmente aceitas como em atividades físicas (musculação, artes marciais, corrida etc.) ou atividades artísticas (teatro, pintura, música etc.). Ter atividades destas duas vezes por semana já é o suficiente para conseguir dissipar parte da raiva sentida no ambiente de trabalho.

Utilizar a sua raiva no trabalho também não é errado! O problema é que você deve estar ciente dos riscos, como ser interpretado como alguém descontrolado ou impulsivo (lembre-se que muitos líderes não conhecem o real significado de inteligência emocional). No entanto, situações emergenciais ou de crise são ótimas oportunidades para utilizar a sua raiva com eficiência. Afinal, a sua mensagem será interpretada com muito mais energia e preocupação.

Você tem se estressado muito no trabalho? Tem utilizado a sua raiva da maneira adequada? Tem engolido muito sapo? Tome cuidado! Não processar as suas emoções poderá levar a doenças físicas e afastamentos do seu trabalho. Já se processar de maneira muito intensa e em qualquer situação irá destruir a sua credibilidade como profissional. Atenção!

Fonte: Carreira & Sucesso – Allan Lopes.