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17 de dezembro de 2020 - Ano 11 - Nº 607
Carreira
 

Gatilhos emocionais
O que fazer para diminuir conflitos e lidar com o estresse do home office

Reconhecer vulnerabilidades psicológicas e entender as emoções desencadeadas nas relações de vida e trabalho são fundamentais para melhorar as decisões e a comunicação remota com o gestor, segundo Saulo Velasco, psicólogo, phD e professor da The School of Life. Também são habilidades importantes para manter a saúde mental em períodos de intenso estresse e situações adversas, como o contexto atual de enfrentamento à pandemia. "Sem a consciência de que há hoje uma série de fatores incontroláveis e sobre como estamos lidando com tudo emocionalmente, a chance de agir às cegas, de contra-atacar os outros ou de fugir de problemas é muito maior", disse Velasco.

Em um momento no qual muitos profissionais sofrem com a sobrecarga de trabalho e lutam para conciliar tarefas, cuidado com os filhos e afazeres da casa, Velasco diz ser essencial reconhecer e avaliar cada emoção que desponta das interações diárias. "Todo mundo trabalha com alguém que é difícil, mas todo mundo também pode aprender a ter consciência de qual é o piloto automático de reação, identificar gatilhos emocionais que podem torná-lo mais agressivo ou fazê-lo recuar diante de uma situação", afirma. Para o psicólogo e professor, esse "exercício imaginativo" ajuda a prever situações que podem sair do controle no trabalho e na vida. "É como arrumar um trem que está prestes a sair da estação e tem chance de descarrilhar. Quando ele sai e está perto de sair dos trilhos é muito mais difícil controlar", diz.

Olhar sob essa perspectiva a situação atual, onde muitos fatores externos são "incontroláveis", pode ajudar a reduzir ruídos e conflitos na comunicação remota com colegas e chefes. "Um estudo deste ano mostrou que a comunicação online tem nos deixado mais cansados porque há um esforço psicológico maior de entender todos os sinais do interlocutor, capturar ironias, sutilezas e fatores implícitos à sua fala, que notamos mais fácil quando estamos presencialmente", diz.

Velasco pondera que ajuda muito na situação estressante atual ter uma "atmosfera" no ambiente de trabalho que permita o compartilhamento de incômodos e sentimentos - e que é papel da liderança criá-la. "As pessoas podem olhar para o estilo de comunicação: é possível dizer o que está afetando-as e desencadeando emoções ruins dependendo do modo como se fala", diz. Ele define esse estilo de comunicação como "assertivo": alguém que é capaz de ouvir os outros e se posiciona entendendo as diferenças, os desafios, mas deixando claro o que pensa.

Do lado pessoal, Velasco diz que trabalhar o autoconhecimento é fundamental para entender os impactos que as interações com todos ao redor estão trazendo. "Algumas pessoas fazem isso escrevendo diários e identificando padrões, outras buscam meditação e ioga, mas dá também para cultivá-lo reservando momentos para outras atividades, como esportes, tarefas lúdicas ou entretenimento. Até lavar a louça pode ser uma válvula de escape em determinados momentos".

Fonte: Valor Econômico – Bárbara Bigarelli.