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4 de fevereiro de 2021 - Ano 12 - Nº 612
Carreira
 

Como dar um feedback sincero para o chefe?
Não deixe seu desconforto acumular

Um dos grandes desafios da comunicação é conseguir transmitir para o outro aquilo que estamos pensando, sentindo, vivendo. Não é uma questão de vocabulário, veja bem. Estou falando, na verdade, sobre a capacidade de ajudar aquele com quem estamos falando a se colocar no nosso lugar e tentar enxergar o que tentamos mostrar por meio de palavras. Soou muito poético ou muito psicanalítico? Bem, mas essa é, em linhas gerais, a dinâmica por trás daquilo que fazemos — ou pelo menos tentamos fazer — no dia a dia: nos comunicarmos.

E é justamente por esse ponto que eu sugiro começar as conversas, digamos, mais difíceis. Se para estabelecer uma comunicação eficiente precisamos guiar o outro para que ele tente se ver no nosso lugar, que tal iniciar um diálogo mostrando para essa pessoa que você consegue se colocar no lugar dela? Ou seja, criando laços de empatia!

Quando você inicia uma conversa oferecendo solidariedade e compreensão, a mensagem perde aquele tom acusatório e passa para o que talvez seja a chave do diálogo bem-sucedido: a mediação. Porque, convenhamos, uma conversa baseada apenas em apontar dedos e trocar farpas dificilmente sai do lugar. No fim desse duelo, restam duas pessoas cansadas e frustradas. Pior ainda, o problema continua lá.

Agora, quando você estabelece uma comunicação a partir da ideia de mediação de conflito, o cenário muda. O que você quer mostrar é compreensão e, em troca, você pede que a mesma gentileza seja estendida a você. Você quer mostrar que está atento ao que o seu chefe está sentindo ou pelo que ele está passando e que seria muito bom para ambos que esse exercício de olhar e considerar o outro fosse uma via de mão dupla.

Para isso, tente estabelecer uma dinâmica de causa e consequência. Explique, por exemplo, que por conta da comunicação menos frequente e menos pessoal no home office (causa), você acaba se sentindo menos conectado com a empresa e um tanto quanto desmotivado (consequência). Lembre-se: para você, pode parecer muito óbvio que a comunicação dele piorou e que isso afeta a sua motivação, porém existe a possibilidade de que ele não tenha consciência disso. Então, fique atento ao que falamos sobre tentar traduzir o seu mundo.

Uma boa dica para isso é, em alguns momentos, perguntar se a pessoa está compreendendo o que você falou, se você está conseguindo explicar o seu ponto de vista. Sempre com respeito, sem parecer que está debochando do outro ou intimidando-o.

Outra dica melhor ainda é não esperar a avaliação de desempenho para dar ou pedir um feedback para o seu chefe. Costumo observar que muitos profissionais vão acumulando pendências ao longo do ano, coisas que eles gostariam de comentar com o seu gestor, dúvidas que eles têm, mas não compartilham porque acreditam que isso é conversa de avaliação de desempenho. Quem disse?

Ok, é verdade que existem empresas com culturas mais formais, cuja hierarquia rígida acaba criando um muro entre a liderança e os colaboradores, mas, ainda assim, meu conselho é: não deixe seu desconforto acumular. Isso é ruim para você, é ruim para o seu gestor, é ruim para a empresa.

É muito mais difícil resolver os conflitos quando eles se acumulam e quando eles se sedimentam como base daquele relacionamento. Quebrar essa fundação feita de conversas que deixamos para depois é mais difícil porque já existe toda uma dinâmica — ainda que pouco positiva — em torno dela.

É aquele calo com o qual a gente acaba se acostumando, mas que vez ou outra volta a incomodar quando usamos determinado sapato. Não cultive feridas, o melhor é ir cuidando aos poucos ou, até, investir em tratamentos preventivos para que os machucados nem sequer apareçam.

Fonte: Valor Econômico – Sofia Esteves.