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10 de fevereiro de 2022 - Ano 13 - Nº 663
Carreira
 

Cresce a busca por executivos no setor de criptomoedas
Contratações avançam em um contexto de aportes externos nas companhias do segmento

Empresas ligadas ao setor de criptomoedas estão recorrendo ao mercado financeiro "tradicional" - mas não para pedir conselhos. Estão de olho em executivos experientes, de áreas como compliance, desenvolvimento de negócios e recursos humanos, para reforçar seus quadros. As contratações avançam em um contexto de aportes externos nas companhias e de expectativa de embarque de novos usuários.

Depois de chamar a atenção de pessoas físicas, a aposta do setor é que as criptomoedas entrem no radar de investidores institucionais e clientes de alta renda. Uma pesquisa da gestora americana Fidelity realizada no ano passado com 1,1 mil investidores da Ásia, Estados Unidos e Europa indica que 71% deles pretendem aplicar no segmento no futuro, acima da parcela de 59%, registrada em 2020. A tendência também é aguardada no Brasil.

No país, um dos movimentos mais relevantes do mercado cripto em 2021 foi o lançamento dos ETFs (sigla em inglês para fundos negociados em bolsa) de criptomoedas. A bolsa de valores brasileira tem, pelo menos, cinco produtos do tipo que, além do poder de atrair novos aplicadores, ficaram no topo da lista dos mais rentáveis de 2021.

No grupo 2TM, dono da plataforma de ativos digitais Mercado Bitcoin, considerado a maior exchange (plataforma onde é possível comprar, vender, trocar e guardar criptomoedas) do país em volume de transações, foram contratados 20 executivos no ano passado e há mais de 50 vagas abertas atualmente, a maioria para a área de tecnologia.

"O mercado cripto ainda é novo e fica difícil encontrar talentos prontos na área", diz a CHRO (líder de recursos humanos) da companhia Daniela Cabral. "Por isso, pessoas que queiram se desenvolver na economia digital, oriundas de setores como TI ou finanças, podem ter o perfil que precisamos." Movimentações recentes indicam que a organização vai precisar de mais currículos.

No início do ano, o gigante do comércio eletrônico Mercado Livre comprou participação acionária no 2TM. O valor envolvido na transação não foi revelado, mas o Mercado Livre, de origem argentina, reforçou o interesse no desenvolvimento e uso de criptoativos na América Latina. Desde dezembro de 2021, usuários do Mercado Pago, carteira digital do Mercado Livre, podem comprar e vender criptomoedas pelo aplicativo da marca.

No ano passado, o Mercado Bitcoin também entrou na lista dos "unicórnios" - ou companhias de tecnologia com avaliação superior a US$ 1 bilhão. O título foi obtido depois de um aporte de US$ 250 milhões do Softbank. "Crescemos muito em 2021 e os talentos que trouxemos vieram para focar no aumento de clientes e de transações, com reforço no atendimento", diz a executiva. O Mercado Bitcoin coleciona 3,2 milhões de clientes e movimentou R$ 40,3 bilhões em 2021, multiplicando em quase sete vezes o volume do ano anterior.

Recentemente, a empresa contratou o executivo André Franco, ex-Empiricus e especialista em análise de criptoativos, como head de research, para estruturar um departamento voltado a investidores de alto patrimônio, e Vitor Delduque, antes vice-presidente da gestora Pátria Investimentos, para a área de tokens digitais.

Uma parcela significativa das contratações é feita por meio de indicações internas, explica Daniela Cabral, ela mesma uma prova de que o 2TM, com 600 funcionários, pretende aperfeiçoar o garimpo de gestores. Ex-diretora de RH de grandes grupos como Avanade e Totvs, chegou à empresa este ano para deslanchar o departamento de pessoas. "É importante formar talentos", afirma ela, lembrando que um dos interesses é treinar profissionais "dentro de casa". Para isso, vai usar uma das empresas do grupo 2TM, a plataforma de ensino Blockchain Academy, de cursos sobre criptoeconomia e adquirida em 2021.

Na visão de Leonardo Oliveira, head de pessoas e cultura da NovaDAX, exchange global fundada no Brasil em 2018 com um portfólio de mais de 100 criptomoedas, diversificar os canais de seleção pode ajudar a preencher posições com mais assertividade. Do total de contratações feitas até agora, 50% foram fechadas com a ajuda de anúncios no LinkedIn ou no site da organização, 40% por indicações e 10% com a orientação de headhunters.

"Como muitas companhias estão começando nesse mercado, profissionais do setor estão em alta", afirma. Com 70 funcionários, sendo 35 no Brasil, a NovaDAX, com operações na América Latina e Europa, admitiu quatro executivos de gerência e 25 funcionários no país em 2021. A estimativa é contratar mais 20 em 2022 - oito vagas estavam anunciadas em janeiro, para setores como marketing, vendas, atendimento e RH. "Estamos em plena expansão e precisamos de candidatos em diversas áreas."

No ano passado, a NovaDAX, comandada pela executiva chinesa Beibei Liu, lançou um cartão de crédito pré-pago que converte criptomoedas em real e ultrapassou a marca de 850 mil clientes. Além da CEO, 50% dos cargos de decisão são ocupados por mulheres, segundo a companhia.

Oliveira diz que tem demorado de 30 a 40 dias para localizar e contratar um novo funcionário. A falta de conhecimento sobre o mercado cripto não atrapalha na hora da entrevista, avisa. "Para boa parte das vagas, preferimos desenvolver os candidatos aqui dentro. Organizamos uma semana inteira de imersão, além de trilhas de aprendizado ao longo do ano", explica.

Para os líderes de RH do setor, a briga por talentos pode estar apenas começando. Somente o Grupo Ripio, dono da Ripio e da BitcoinTrade, de compra e venda de criptomoedas, admitiu 40 funcionários no Brasil em 2021 e deve convocar mais 50 este ano.

A companhia mantém uma equipe de 300 pessoas no Brasil, Argentina, Uruguai, México, Colômbia e Espanha. Em setembro de 2021, recebeu um investimento de US$ 50 milhões, liderado pelo americano Digital Currency Group, holding de capital de risco com foco em moedas digitais. No Brasil, há cadeiras livres para desenvolvimento de negócios, jurídico e compliance. "Vamos contratar mais gente para absorver o crescimento da empresa depois do aporte", diz Henrique Teixeira, empossado como country manager da operação brasileira no ano passado, depois de comandar unidades da multinacional Ripple, de soluções de pagamentos, nos Estados Unidos e em Cingapura.

Fonte: Valor Econômico – Jacílio Saraiva.