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5 de janeiro de 2023 - Ano 13 - Nº 709
Carreira
 

Saiba por que a maioria das pessoas evita pedir ajuda psicológica
Especialistas afirmam que empresas e lideranças devem trabalhar para desmistificar o assunto

O medo do julgamento e a discriminação são motivos para que a maioria, ou 73% dos profissionais brasileiros com problemas relacionados à saúde mental, não busquem ajuda especializada. É o que indica um estudo inédito sobre tema, obtido com exclusividade pelo Valor.

"Outras barreiras citadas por cerca de 70% dos entrevistados foram a existência de um tabu em torno da saúde mental e o sentimento de insegurança ou vergonha por apresentar algum problema", explica o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, cofundador da Caliandra Saúde Mental, empresa de soluções de cuidados na área, responsável pelo levantamento.

O trabalho, realizado entre junho de 2021 e julho de 2022, ouviu 333 empregados de sete companhias de diferentes portes e setores. Do total, 49% ocupam cargos de liderança, 59,8% são mulheres e a maioria (59,8%) tem de 35 a 54 anos de idade. A maior parte tem ensino superior (33,1%), com especialização ou MBA (43,1%).

O estigma ainda pesa muito sobre a saúde mental, analisa Andrade. "Poucos se sentem à vontade para dizer que precisam ir ao psicólogo ou ao psiquiatra. Têm medo de falar sobre sofrimento emocional com os líderes, com receio de que pensem que estão fazendo "corpo mole" ou para justificar uma queda de performance, afirma. "É preciso romper essa barreira e isso deve começar com o apoio da liderança."

Entre os fatores relacionados à saúde mental que mais impactam no trabalho, segundo a pesquisa, estão o desgaste, o cansaço e estresse, com 49% das respostas, antes de alterações de humor (22%) e falta de comunicação assertiva (10%).

"As pessoas ainda não sabem como lidar com o tema ou conversar com alguém que enfrenta a situação", diz a psiquiatra Camila Magalhães, também cofundadora da Caliandra. "Essa dificuldade pode impactar não apenas na produtividade de quem vive o problema, mas em um time inteiro."

A recomendação dos especialistas, diante dos dados coletados, é que as corporações trabalhem mais para desmitificar o assunto, principalmente com os gestores. "Não adianta as organizações encararem as questões de saúde mental como algo passageiro", avalia Andrade. "A atenção ao bem-estar é um investimento."

Em um ambiente corporativo, além de apostar no desenvolvimento de competências voltadas ao negócio, diz o especialista, é altamente recomendado que as chefias invistam em ações de cuidado com a saúde mental do quadro. "É preciso sensibilizar o empregado a reconhecer seu estado emocional quando necessário e saber como oferecer orientação", afirma. "A saúde integral, que engloba o bem-estar emocional, deve ser considerada como uma pauta estratégica."

Fonte: Valor Econômico – Jacílio Saraiva.