No domingo (8), as manifestações de apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro, que terminaram em invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e o do Congresso Nacional, em Brasília, geraram uma série de questionamentos sobre o reflexo disso na carreira de quem participou – e na reputação da empresa em que trabalha.
Demissões por justa causa, inclusive, já aconteceram. Mas, aqueles que não foram desligados também podem "pagar um preço", caso tenham usado de violência e agressividade. Isso porque, assim como uma empresa precisa cuidar da sua reputação, as pessoas também precisam. Isso inclui não apenas "o quê" e "como" entregam as demandas de trabalho, mas "como se comportam".
E não apenas no escritório, mas na vida pessoal. É a chamada construção da marca pessoal, da reputação. E isso vai além de como você se comporta no trabalho. No mundo atual, cada vez mais digital, tudo está literalmente conectado: o que você posta nas redes sociais está diretamente ligado à sua imagem profissional. "Manifestações são legítimas e importantes, porém, a partir do momento que a violência entra em cena, é possível que a reputação do profissional seja prejudicada", explica Maria Cândida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results, especializada em carreira e cultura empresarial.
Segundo ela, não existe mais ser uma pessoa na empresa e outra fora dela. As companhias querem, hoje, pessoas reais e por inteiro. Não alguém que "veste" um personagem no trabalho e, ao sair, se transforma. Por exemplo, no ambiente corporativo costuma ser gentil, mas ao sair é agressivo e intolerante com quem pensa diferente. "Se alguém destrói e não respeita o patrimônio público, como vai respeitar a empresa?", diz.
Além disso, há o receio de o comportamento mais violento aparecer, em algum momento, no trabalho, como em situações nas quais o tal profissional discorda. Isso pode gerar conflitos internos, medo, agressões físicas e assédio.
A atitude também pode afetar as futuras contratações, diz Maria Cândida. "É cada vez mais comum os recrutadores pesquisarem os candidatos nas redes sociais e profissionais. E um comportamento ruim do passado pode atrapalhar na hora da decisão, pois haverá o receio de se repetir".
A especialista explica que, se por um lado se fala sobre segurança psicológica no trabalho, ou seja, a importância de a empresa proporcionar um espaço de respeito e no qual os funcionários possam ser eles mesmos, por outro, a companhia também quer contar com profissionais confiáveis e sem uma imagem dúbia.
Ela reforça que isso não quer dizer concordar com tudo o que um chefe diz, por exemplo. Até porque o pensamento diverso é essencial para a inovação. A questão é ter uma opinião diferente e não aceitar outro ponto de vista. "A discussão de conteúdo é o que torna as pessoas mais profundas e criativas, bem diferente do embate e de achar que o único caminho é convencer o outro do seu pensamento", diz.
É importante o profissional entender, ainda, quais os valores da empresa em que trabalha: o que ela defende e prega? Quais comportamentos são importantes? O que é inegociável? Assim, fica mais fácil saber como agir e o que pode ser prejudicial.
Fonte: Valor Econômico – Caroline Marino. |