Pressão de tempo. Carga de trabalho elevada. Falta de clareza. Inúmeros projetos a equilibrar. Burocracia. O que estes elementos têm em comum? Para além do fato de que são parte da nossa rotina de trabalho, todos eles são exemplos de demandas que consomem nossa energia e, portanto, são considerados estressores no trabalho. No limite, são eles que podem nos levar ao desengajamento e exaustão. Fazem parte de um problema antigo, que se agrava ano após ano e que temos falhado em encaminhar uma solução.
Tentativas de solução não faltam. A questão é quão efetivas são. A abordagem mais comum é de equipar o funcionário a lidar melhor com o estresse. Incentivos à meditação, palestras sobre como se desconectar do trabalho e outras iniciativas de bem-estar são alguns exemplos. Não digo que elas não sejam importantes, mas há de se reconhecer seus vários limites. Um deles é sobre seu real impacto, quando combinadas com uma rotina de trabalho altamente estressante. No limite, estas iniciativas podem ser encaradas com certo cinismo por funcionários afundados em longas jornadas de trabalhos, metas agressivas e pilhas de projetos e responsabilidades a equilibrar.
Outro limite é que estas ações estão centradas em minimizar os sintomas e não as causas do problema. O cerne do estresse e exaustão no trabalho não é o indivíduo, mas a organização. O problema não vai se resolver incentivando o funcionário a meditar, ser mais resiliente e desenvolver habilidades de autogestão. É uma questão gerencial de criação de ambientes de trabalho melhores. Mas como viabilizar? Há um dilema implícito aqui. A intervenção efetiva seria reduzir os estressores, ou seja, as demandas de trabalho.
Porém, isso poderia implicar em comprometer os resultados dos times e esbarraria na lógica de "não podemos baixar a régua". Com isso, ficamos paralisados no impasse entre o mal menor a escolher: de um lado, exaustão; do outro, menor desempenho.
De fato, qualquer demanda no trabalho causa estresse. Mas o impasse fica menos intransponível se reconhecermos que nem todos os estressores são iguais. O ponto importante é distinguir que há pressões mais positivas de "desafio" e outras pressões mais negativas de "obstáculo" no trabalho.
As pressões de desafio, ainda que causem estresse, são menos danosas, porque possuem potencial de contribuir para o desenvolvimento pessoal e alcance de objetivos. É o caso de lidar com altos níveis de responsabilidade, pressão de tempo, executar trabalhos complexos ou equilibrar vários projetos ao mesmo tempo. São pressões difíceis, mas percebemos um propósito em se engajar nelas.
Por outro lado, as pressões de obstáculos não apenas consomem energia, como são percebidas apenas como barreiras para a realização do trabalho. Há um incômodo latente de "por que eu preciso lidar com isso?" embutido nelas. Empecilhos burocráticos, demandas conflitantes de chefes, falta de clareza ou politicagem são exemplos.
Há ampla evidência em pesquisas sobre como os estressores de obstáculo estão ligados a maior desengajamento e burnout, enquanto os de desafio se ligam a maior comprometimento e performance.
Reconhecer as diferentes naturezas dos estressores é útil, porque as lideranças podem direcionar sua atenção e esforço para seletivamente reduzir as pressões de obstáculo. Se elas são as mais danosas, o foco precisa ser em conter estas fontes de estresse.
Não é uma questão do funcionário ser resiliente para lidar com elas, mas das lideranças se responsabilizarem em tirarem estes obstáculos do caminho. Isso não quer dizer, porém, que, como líderes, temos liberdade poética para aumentar as pressões de desafio indiscriminadamente. A dosimetria importa, porque ela pode influenciar como a pressão será experimentada.
Mesmo projetos desafiadores com alto potencial de aprendizado podem se tornar um fardo, quando em excesso. Pense, por exemplo, na questão de pressão de tempo. Ainda que em níveis moderados, ela possa aumentar nosso foco e engajamento, depois de certo ponto, quando a pressão de tempo se torna extrema, ela provavelmente reduzirá desempenho.
Temos ainda um longo caminho pela frente para resolvermos os problemas de estresse no trabalho, mas sua solução certamente virá menos de ações focadas em aliviar sintomas de estresse via meditação e cursos de resiliência, e mais de intervenções que entendam e ataquem suas causas. O problema de exaustão no trabalho não é individual, mas organizacional. A solução não está, portanto, em pessoas individualmente encontrando melhores formas de lidar com estresse, mas de organizações coletivamente desenhando melhores práticas de gestão da força de trabalho.
* Tatiana Iwai é professora e pesquisadora de comportamento e liderança no Insper, onde coordena o Núcleo de Pesquisas de Comportamento e Gestão de Pessoas do Centro de Estudos em Negócios do Insper.
Fonte: Valor Econômico – Tatiana Iwai. |