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21 de setembro de 2023 - Ano 14 - Nº 746
Carreira
 

Setembro Amarelo
O que as empresas podem fazer pela saúde mental dos funcionários

Prazos apertados, pressão e excesso de tarefas podem levar funcionários e colaboradores a desenvolverem transtornos mentais, como depressão, ansiedade e Burnout. O debate sobre a importância do tema entra ainda mais em evidência neste mês, quando é realizada a campanha do Setembro Amarelo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o ambiente profissional seja um dos principais em que medidas para prevenir problemas de saúde mental sejam adotadas. Recentemente, várias empresas têm implementado programas que visam cuidar do bem-estar dos empregados. Mesmo assim, um relatório da OMS aponta que apenas 35% dos países têm programas nacionais para promoção e prevenção da saúde mental relacionada ao trabalho.

O que as empresas podem fazer?

O Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS, publicado em junho de 2022, mostrou que cerca de 15% dos trabalhadores adultos vivem com um transtorno mental. A OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertam para a importância de se criar ambientes seguros para trabalhar.

O bullying e a violência psicológica estão entre as principais queixas de assédio no local de trabalho. As organizações afirmam que a questão da saúde mental é negligenciada não só em locais de trabalho, mas por governos e comunidades de todo o mundo por um “estigma” que dificulta a compreensão dos transtornos e, consequentemente, destina poucos investimentos para sua prevenção.

“As organizações sempre foram fonte de muito sofrimento. Porque a gente tem que performar, cumprir metas e responsabilidades e nunca foi um ambiente permitido de falar dessas questões mais existenciais”, observa Mariana Clark, especialista em saúde mental, perdas e lutos no contexto organizacional.

Esse estigma pode fazer com que empresas evitem contratar profissionais com algum transtorno e desencoraja os empregados a falarem sobre as condições de saúde no ambiente de trabalho. A OMS e a OIT também mencionam como questões que afetam a saúde as altas demandas de trabalho, baixa autonomia para tomar decisões e funções pouco claras.

A OMS e a OIT defendem a importância de investimentos em cultura de prevenção, remodelando o ambiente de trabalhado para acabar com os estigmas, além de apoio e proteção para os empregados com condições especiais de saúde mental.

O papel do líder

Para especialistas, as lideranças têm cada vez mais responsabilidade no processo de criação de um espaço de trabalho seguro para os colaboradores. Mariana Clark diz que a figura do líder ainda é muito atrelada à fonte de sofrimento dos liderados no dia a dia das empresas e, por isso, é tão importante que haja a capacitação dos quadros de gestão.

“Não existia muito essa ideia de que a liderança exerce também um papel de cuidador. A gente só levava nossa potência e isso nos fez adoecer. Agora a liderança também está sendo exigida [no tocante ao bem-estar dos funcionários], e ela também está em crise”, aponta.

De acordo com Clark, essa mudança de percepção faz com que a figura da liderança não seja mais vista apenas com a de um indivíduo único, mas em uma perspectiva relacional, no sentido de como os chefes estão cuidando de si mesmos para serem exemplos para os colaboradores.

“Para além do resultado, é preciso mais afeto. O líder tem que ser capaz de acolher, oferecer bem-estar e cuidados, sobretudo, para ajudar o liderado a desligar o sistema de alerta e possa desempenhar o trabalho com a sensação de potência, protagonismo e autorresponsabilidade.”

Medo do desemprego

Além dos problemas enfrentados no dia a dia do mundo corporativo, os trabalhadores convivem diariamente com o medo de perder o emprego. O temor se agravou na pandemia, quando muitas empresas fecharam as portas ou reduziram o quadro de funcionários.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada oito pessoas tem algum tipo de transtorno mental. Quase 60% dos casos são de ansiedade (31%) e depressão (28,9%), quadros que cresceram desde a pandemia.

Sofia Esteves, fundadora da Cia de Talentos e do bettha.com, diz que o tabu sobre os transtornos psicológicos e os impactos negativos no mercado de trabalho faz com que haja um temor dos funcionários sobre tratar dos transtornos e dificuldades dentro das empresas.

“Isso ainda é um tabu porque sempre vem acompanhado da fantasia de que se eu contar que não estou bem emocionalmente não vou ser visto para ser promovido, não vão me avaliar bem para o meu bônus ou vão me desligar,” diz.

As novas tecnologias agravaram o quadro de angústia, segundo ela, pois geraram nos trabalhadores os termos de sensação de que eles poderão ser substituídos a qualquer momento por máquinas capazes de realizar as suas funções. “É como aconteceu lá atrás na era industrial. Houve um pânico generalizado de pessoas acharem que seriam substituídas pela máquina”, observa.

Em busca de propósito

As especialistas ressaltam que o mundo do trabalho é uma das pontas de uma sociedade que vive em um desequilíbrio generalizado. Segundo Mariana Clark, a nossa vida tem uma média de 15 experiências de dor e luto, inclusive os “não reconhecidos”. Esse sofrimento perpassa a perda de pessoas próximas, divórcios, desligamentos e até a aposentadoria.

“Há uma ‘felicidade tóxica’ que é incompatível com a condição humana. A minha provocação é o que estamos fazendo com essas dores no ambiente de trabalho”, ressalta a especialista.

O esgotamento desse modelo também pode explicar outro fenômeno que tem desafiado o mercado de trabalho: a demissão voluntária de colaboradores. Para Sofia Esteves, o comportamento tem relação com a busca dos profissionais por um trabalho com “propósito” ou “impacto”.

"As empresas presas mais do que nunca tiveram que trabalhar engajamento, motivação e senso de pertencimento. Uma das coisas que mais se busca pelo trabalhador estar em ambiente que ele pode ser ouvido, em que pode ser ele próprio", afirma.

Fonte: Valor Econômico – Paula Martini.