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9 de novembro de 2023 - Ano 14 - Nº 753
Carreira
 

Fear of Switching Off
Por que profissionais não se desconectam nas férias

Se as férias um dia significaram um momento de descompressão e desconexão com o trabalho, a realidade hoje é outra. O Foso (Fear of Switching Off, ou o medo de se desligar) atinge profissionais de todo o mundo – americanos, europeus e também brasileiros. Uma pesquisa global mostra que 61% dos brasileiros ficam ainda mais estressados e ansiosos quando se desconectam do celular e do trabalho, e não conseguem relaxar durante as férias.

O estudo encomendado pelo Priority Pass, programa que dá acesso a lounges em aeroportos em todo o mundo, e realizado pela empresa global de pesquisa Dynata, entrevistou mais de 8 mil pessoas em 13 países e revelou o comportamento dos viajantes em seus períodos de férias.

Entre as principais preocupações está o medo de perder mensagens importantes, principalmente sobre o trabalho. "As pessoas têm muito medo de não acompanharem o dia a dia e serem pegas de surpresa na volta das férias", diz Christopher Evans, CEO da Collinson International, operadora do Priority Pass.

Para Luís*, gerente de projetos de uma multinacional de tecnologia, é difícil aproveitar os momentos de folga sem pensar no que vai encontrar depois. "Fico ansioso e tento antecipar alguns temas pelo celular para que seja menos correria depois. O trabalho fica acumulado e os prazos não mudam."

Apesar disso, a pesquisa mostra que a estabilidade de um emprego permite que os profissionais se desconectem com mais facilidade. 26% das pessoas empregadas consideram fácil se desconectar de assuntos de trabalho durante as férias e 48% desse grupo não acompanham e-mails e aplicativos de mensagens relacionadas a trabalho nesse período.

Em relação ao tempo de férias, cerca de 20% dos entrevistados brasileiros acreditam que precisam de três a quatro semanas para se sentirem totalmente relaxados. Para os estrangeiros, o período ideal de férias é de, no máximo, duas semanas.

Empreendedor não tem férias

A situação é ainda pior quando se analisa o perfil dos empreendedores – 41% se mantêm disponíveis para o trabalho durante viagens e acreditam ser praticamente impossível se desconectar por mais de meia hora dos seus celulares. "O ônus de empreender é não conseguir se desconectar", diz Ricardo Onofre, CEO da Social Digital Commerce.

Os dados vão na contramão da ideia de que o empreendedorismo permite maior flexibilidade na agenda. "Eles acabam acumulando funções e dão a palavra final em determinadas situações, por isso ficam conectados de forma ainda mais intensa", observa Evans, CEO da Collinson International.

Para Callebe Mendes, fundador e CEO da fintech Zapay, tirar férias é ainda mais difícil no início do negócio. "Os desafios e os problemas continuam e é essencial que eles sejam resolvidos", afirma, sugerindo que o empreendedor tenha pequenos momentos de descanso. "Costumo dizer que o empreendedor tem que ser acostumado a trabalhar 24×7".

A importância de tirar férias

Com o aumento do trabalho remoto e híbrido, as linhas entre a vida pessoal e profissional ficaram cada vez mais tênues, tornando difícil para as pessoas desligar completamente. "O WhatsApp virou uma ferramenta para fazer a gestão do dia a dia. A tecnologia e a digitalização facilitam muitas coisas, mas dificultam a desconexão", diz Douglas Salvador, CEO e fundador do Clube do Malte, que se desconectou totalmente do trabalho pela última vez em 2010, em uma viagem a Cuba, onde não tinha internet.

Apesar de o híbrido ser a maneira preferida de trabalhar dos funcionários e estar associado a um melhor bem-estar e equilíbrio, os dados sugerem que esse modelo pode ser mais emocionalmente desgastante do que o trabalho totalmente remoto ou no escritório.

Estratégias para se desconectar e curtir as férias sem culpa

Mesmo quando as pessoas tiram uma folga, metade delas admite levar seus notebooks de trabalho nas férias e 41% participam de videochamadas, o que as deixa ainda mais exaustas.

O que quer que esteja por trás dessa dificuldade em se desconectar, não é sustentável para funcionários e empresas. Além de poder enfrentar consequências de saúde graves, profissionais com o mental abalado são menos produtivos e criativos.

É por isso que os empregadores que valorizam seus funcionários – e os resultados da empresa – devem fazer de tudo para incentivá-los a fazer uma boa pausa. Quando as pessoas conseguem recarregar totalmente, elas retornam ao trabalho com um "senso renovado de energia e propósito, o que aumenta sua produtividade e motivação", diz Kevin Cashman, autor de "The Pause Principle: Step Back to Lean Forward" ("O Princípio da Pausa: um passo atrás para ir adiante", em tradução livre).

Além disso, é muito melhor para as empresas apoiar e reter os seus talentos do que gastar tempo, dinheiro e esforço para contratar e treinar alguém novo.

Veja algumas dicas para se desconectar do trabalho sem culpa e aproveitar suas merecidas férias.

Dê o exemplo

Para os fundadores e CEOs de empresas, é importante dar o exemplo. Eles não devem apenas promover os benefícios das férias, mas também colocar esse discurso em prática para que seus funcionários também se sintam confortáveis em tirar suas merecidas folgas.

Com mais responsabilidades, é mais difícil tirar uma folga, mas esse é um exemplo saudável para a equipe, além de todos se beneficiarem de uma pausa.

*O nome foi ocultado para proteger a identidade do entrevistado.

Fonte: Forbes do Brasil.