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15 de agosto de 2024 - Ano 15 - Nº 791
Carreira
 

Ficar na mesma empresa muito tempo é bom para a carreira?
Ou isso é um problema?

"Trabalho na mesma empresa há mais de quinze anos. Entrei como estagiário e fui sendo promovido até chegar ao meu cargo atual, supervisor. Gosto bastante daqui e estou acostumado com o ambiente e com as pessoas. Como passei por diferentes áreas e posições, não me sinto estagnado. No entanto, algumas pessoas já me falaram que seria interessante procurar outras oportunidades porque uma carreira inteira na mesma empresa pode acabar me limitando. Isso realmente é um problema? Eu devo procurar outra empresa com o intuito de expandir meus horizontes?" Supervisor de inovação, 35 anos

Minha avaliação inicial é que, sim, você tende a crescer hierarquicamente mais rápido se trocar de empresa. Mas não existe decisão certa ou errada nesse tipo de situação. Tudo vai depender da avaliação de diversos aspectos. Existem executivos que cresceram muito no mercado justamente por terem passado por diversas organizações, enquanto outros construíram carreiras brilhantes trabalhando sempre na mesma companhia.

Posso citar uma série de nomes que são CEOs na mesma empresa em que iniciaram como estagiários, sem nenhum demérito nessa trajetória. Então a resposta para a sua pergunta é: depende de cada carreira e de cada organização. Vou, então, elencar alguns pontos de reflexão para ajudar você a ter mais clareza sobre o que decidir.

Manter-se na mesma empresa por um longo período é uma decisão que pode ser vista pelo mercado por diferentes ângulos. Por um lado, demonstra lealdade, comprometimento e um profundo conhecimento da organização. Por outro, pode levantar dúvidas sobre a capacidade do profissional de se adaptar a novos ambientes e a ser exposto a diferentes experiências.

Trabalhar na mesma empresa por mais de quinze anos agrega um conhecimento intrínseco das operações, da cultura e das dinâmicas internas. Esse conhecimento pode ser altamente valorizado, especialmente em posições de liderança. Além disso, a longevidade na companhia permite construir uma rede sólida de contatos, tanto internos quanto externos. Esses relacionamentos podem ser cruciais para o sucesso no cargo atual e à frente de futuros projetos.

O fato de você ter começado como estagiário e alcançado o cargo de supervisor mostra que a organização valoriza e promove o crescimento da equipe interna. Essa trajetória pode servir de inspiração para novos colaboradores e reforçar a cultura de apoio ao desenvolvimento profissional do time. Além disso, a permanência prolongada em uma empresa, geralmente, oferece um nível maior de estabilidade e segurança no emprego. Em tempos de incerteza econômica, isso pode ser um fator importante a considerar.

Por outro lado, permanecer na mesma empresa por um longo período pode levar à acomodação. A falta de novos desafios pode limitar o desenvolvimento de novas habilidades e competências. A exposição limitada a outras culturas corporativas e práticas de mercado pode restringir a visão do profissional no longo prazo. Isso porque trabalhar em diferentes empresas tende a ampliar a nossa visão sobre perspectivas e inovação.

Em algumas indústrias, a experiência em diversas empresas é vista como um indicador de versatilidade e adaptabilidade. Além disso, em algum momento, pode haver um teto para o crescimento dentro da organização em que você ingressou como estagiário. Explorar novas oportunidades no mercado de trabalho pode abrir portas para cargos mais altos e novas responsabilidades.

Entendo que o principal ponto a ser observado é se você foi evoluindo ao longo do tempo mesmo estando na mesma organização. Você disse que sim e isso é um ótimo sinal. É importante destacar que são válidas todas as evoluções, sejam mudanças de área ou de cargos; movimentações laterais ou verticais; ou a liderança ou envolvimento em projetos importantes para o negócio. O importante é que a pessoa sinta, de certa forma, que está mudando de emprego sem sair da organização.

Outro ponto a ser observado é a cultura da sua organização considerando quem está há bastante tempo na empresa e aqueles que são contratados. Observe os postos da alta liderança da empresa, os cargos de diretoria, vice-presidência e presidência. Existe uma mescla na ocupação dessas posições, com profissionais antigos e aqueles que ingressaram recentemente? Se a resposta for sim, está tudo bem. Mas se todos os ocupantes das cadeiras mais altas da companhia vieram de fora pode ser um forte indício que se valoriza mais quem entra do que quem já está na casa.

Para o mercado, alguém que fica muito tempo estagnado na mesma função e cargo tende a não ser muito bem-visto, a não ser que seja uma pessoa bastante técnica, que, por vontade própria, decidiu se firmar como especialista e não tem anseios de assumir cargos de liderança. Vale lembrar, também, que profissionais que mudam muito de empresa são vistos como alguém que não vê importância em concluir ciclos. Salvo alguns casos específicos, o ideal é ficar em uma organização, pelo menos, o tempo suficiente para se adaptar, assimilar aprendizados, executar atividades importantes e fazer boas entregas.

Agora que eu já apresentei as tendências de visão do mercado sobre a situação, eu te convido a olhar para os seus anseios de carreira. Quais são as suas expectativas para os próximos três anos? Quanto isso é factível de acontecer na empresa em que está? Você sente que continua aprendendo coisas novas e se sentindo desafiado? Qual é o seu grau de curiosidade sobre novos mercados e novas culturas organizacionais? O que faz você permanecer na atual companhia?

Se existe em você a vontade de conhecer outros mercados, isso é algo que a sua empresa atual não vai conseguir suprir. E, nesse caso, é saudável pensar em uma movimentação. Mas, nesse movimento, é importantíssimo avaliar muito bem o perfil, a solidez, o posicionamento, a cultura e a estabilidade financeira da nova empresa. Considere, ainda, a volatilidade do setor, o perfil da liderança e o escopo da vaga. Quais valores são importantes para você no dia a dia do trabalho? Eles estão presentes na nova organização?

Independentemente da decisão que venha a tomar, mantenha atenção à manutenção e expansão da sua rede de contatos. Participar de eventos, cursos e conferências da sua indústria pode ampliar suas ideias e reflexões, além de ajudar a abrir portas na carreira e aprimorar habilidades. Não se esqueça, também, de manter o foco no desenvolvimento contínuo tanto do ponto de vista técnico quanto comportamental. Tudo isso é essencial para continuar crescendo e se adaptando às mudanças do mercado.

Sair de uma empresa ou permanecer nela pode ser uma decisão difícil, principalmente quando se tem muitos anos de casa e carinho pela organização. É importante que a decisão de mudança faça sentido para você, que seja calculada e consciente, que venha de uma vontade genuína de alçar novos voos e novos horizontes, que considere oportunidades disponíveis e circunstâncias pessoais, profissionais e do mercado.

Não deixe que uma simples pressão externa dite o rumo da sua trajetória. Você é o protagonista dessa jornada.

Fonte: Valor Econômico – Isis Borge.