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5 de junho de 2025 - Ano 16 - Nº 832
Carreira
 

IA generativa cria novos cargos nas organizações
Pesquisa da McKinsey em 101 países mostra que 13% das companhias já têm especialistas em compliance e 6% em ética para IA

A chegada da inteligência artificial (IA) generativa nas empresas começa a provocar alterações nos quadros de funcionários, com a criação de cargos inéditos. É o que mostra uma pesquisa da consultoria McKinsey em 101 países, incluindo o Brasil.

O levantamento, obtido pelo Valor, indica que 13% das companhias já têm especialistas em compliance da IA e 6% têm profissionais dedicados à ética relacionada a essa mesma tecnologia.

“A maioria ou 78% das corporações usam a tecnologia em pelo menos uma função de negócios e o número de posições que exploram a novidade evolui rapidamente”, avalia Rafael Siqueira, sócio da McKinsey no Brasil. O mesmo índice marcava 55% em 2023 e foi para 72% em 2024. “Os dados mostram que a adoção da IA deixa de ser experimental e passa a ser um elemento estratégico para corporações de todos os setores.”

O estudo ouviu 1.491 profissionais, sendo 63% em cadeiras de liderança. Do total, 42% pertencem a grupos com receita anual acima de US$ 500 milhões, de segmentos como tecnologia, finanças e saúde.

“É essencial investir no reskilling [requalificação] dos profissionais, pois áreas como desenvolvimento de produtos e engenharia de software deverão crescer significativamente com a IA”, recomenda o consultor. “Outros departamentos também vão precisar redirecionar esforços, demandando uma maior preparação dos gestores para liderar transformações e comunicá-las aos times.”

Na IBM desde 2009, o executivo Fábio Lima assumiu o posto de “subject matter expert” (SME) de IA há dois anos, quando a gigante de tecnologia criou o posto. “O SME de IA [especialista no assunto de IA, da sigla em inglês] é uma referência estratégica dentro de uma organização”, explica Lima. Apoia equipes, parceiros e clientes na compreensão e aplicação da tecnologia, diz. “Nosso papel é conectar capacidade técnica com objetivos de negócio, garantindo que as soluções sejam bem direcionadas, responsáveis e gerem valor.”

Antes de assumir a cadeira, Lima foi cientista de dados técnico de vendas na empresa durante sete anos. Hoje, opera em diferentes frentes. “Como porta-voz da IBM em IA, comunicando as novidades do setor na companhia e no mercado; na capacitação dos times comerciais, para que todos estejam preparados ao propor soluções aos clientes, e no acompanhamento de projetos”, diz o especialista, que se reporta ao diretor de IA, dados e automação. “Também acompanho as vendas. É uma atuação transversal, que conecta estratégia, execução e resultados.”

Um dos projetos recentes de Lima envolveu o IAlisson, um assistente virtual desenvolvido com tecnologia IBM para a CazéTV, canal digital de transmissões de eventos esportivos. “Com a capacidade de processar grandes volumes de dados, o sistema proporciona comparativos que ajudam o público a entender melhor o desempenho das equipes, tendências táticas e probabilidades de resultados”, explica.

Na consultoria de tecnologia Thoughtworks, com mais de mil funcionários no Brasil e clientes como Nubank e BMW, o gerente global de proteção de dados, privacidade e compliance para IA Jonathan Sá também conduz novas atividades. Recentemente, participou do lançamento de um assistente virtual que auxilia equipes de software a executar tarefas e identificar gargalos nas rotinas.

“Atuei desde as fases iniciais do projeto, com o diretor de IA e o pessoal técnico, para garantir que a solução fosse robusta, mas construída sobre uma base de governança e ética”, lembra o executivo, na empresa desde 2021 e designado para a posição há um ano, quando ela foi estruturada na consultoria.

Na prática, o executivo precisa garantir que todas as ferramentas adotadas estejam alinhadas com padrões de segurança e privacidade. “Isso envolve a condução de análises técnicas, jurídicas e de documentações, incluindo termos de uso e definição de diretrizes internas, que orientam a aplicação responsável da tecnologia”, detalha.

Antes de se aprofundar no campo da compliance em IA, Sá foi líder de privacidade e proteção de dados para a Thoughtworks na América Latina por mais de dois anos. “Assim como a segurança de informações pessoais é regulada por normas, como o GDPR [Regulamento Geral de Proteção de Dados, da sigla em inglês] na União Europeia, e a LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais] no Brasil, a IA vem sendo enquadrada em propostas regulatórias que exigem estruturas semelhantes, como mitigação de riscos e relatórios de impacto”, justifica.

O executivo afirma que quem pretende trabalhar no ramo deve acumular, pelo menos, duas habilidades principais: a capacidade de conciliar a técnica com o senso de urgência do negócio e uma boa comunicação com os stakeholders das companhias.

“O processo de implementar conformidade acontece em meio a uma dinâmica acelerada, em que as empresas buscam modernizar operações com IA ou estão lançando produtos para um mercado em rápida transformação”, avalia. “Já a natureza técnica das soluções de IA torna fundamental a competência de dialogar com clareza, tanto com times especializados, como cientistas de dados, quanto com as lideranças das áreas de negócios.”

Na avaliação de Vanessa Marquiafável Serrani, consultora sênior de engenharia de prompt e treinamento de IA na provedora de serviços Atento, é possível juntar teoria e prática nesse novo nicho profissional. “Entrei na empresa como consultora em treinamentos de IA em 2022 e, no mesmo ano, assumi a engenharia de prompt”, diz a especialista que também trabalha como linguista computacional. “O meu mestrado e doutorado são na área.”

Serrani explica que um linguista computacional se movimenta na “interseção” entre a linguagem humana e a tecnologia, e deve assegurar que os atendentes digitais “conversem” de forma mais alinhada com a expectativa das pessoas. “Somos responsáveis por treinar os sistemas para que consigam entender e responder aos usuários de maneira relevante e fluida”, afirma. “Minha meta é continuar elevando o nível das interações baseadas em IA na empresa, garantindo que cada palavra gerada por um assistente virtual seja eficiente e humanizada.”

Fonte: Valor Econômico – Jacílio Saraiva.