Se você é jovem e acabou de iniciar sua carreira, pode ser difícil entender o quanto se abrir no trabalho. Devo compartilhar aspectos pessoais para criar vínculos ou evitar totalmente essas questões? Conversei com especialistas que explicaram como estabelecer limites neste ambiente.
Primeiro, é preciso ter em mente que nem todos os assuntos são adequados para o mundo corporativo. E quais são eles? Questões que envolvem dinheiro, brigas familiares e/ou conjugais, traumas e opiniões políticas.
Por quê? Contar os detalhes da sua vida para os colegas pode gerar exposições desnecessárias. "Sempre que você trata de um excesso, se acaba passando um pouco desse limite mais formal, corporativo, você pode estar se expondo e gerando um ruído ou má interpretação", diz Anderson Nishiura, sócio-diretor da Apter.
Lembre-se: as pessoas são criadas de formas diferentes e adquirem personalidades distintas. Uma informação que pode ser banal para você não necessariamente será recebida pelo outro da mesma maneira.
Além disso, compartilhar demais pode dar motivo para que as pessoas façam suposições sobre sua vida pessoal e até utilizem informações contra você para tirar vantagem em algumas situações, pontua Tamires Teixeira, psicóloga e mentora de carreiras.
Imagine o cenário: você trabalha em um setor que cuida das finanças de uma empresa e contou para sua equipe que está devendo para um banco ou que contraiu alguma dívida.
A partir desta informação, as pessoas podem inferir que você é um profissional ruim por atitudes que teve no âmbito privado. "Talvez o olhar dessas pessoas, pode ser de ‘caramba, se a pessoa não consegue lidar com as suas próprias finanças, como vai lidar com as finanças da empresa’?" exemplifica Teixeira.
Por isso, antes de comentar algo pessoal com colegas, faça uma reflexão: se eu compartilhar essa informação, vou criar mais vínculos, identificação e proximidade com colegas, ou posso abrir espaço para interpretações equivocadas sobre minhas atitudes e sobre minha personalidade?
No caso de ausência no trabalho, quanto é preciso revelar? Para os especialistas, o mínimo necessário para justificar sua falta para o gestor é o suficiente, já que isso impacta no fluxo de trabalho de outras pessoas.
Em casos que envolvem questões de saúde, por exemplo, você pode detalhar o que está acontecendo dependendo da cultura organizacional da empresa em que estiver, diz Nishiura. Líderes bem treinados sabem recepcionar informações delicadas com cautela, sigilo e respeito.
"O gestor sempre tem que estar aberto, disponível, mas nunca de uma forma invasiva para poder ouvir o profissional. Então, vejo com bons olhos quando um profissional se sente à vontade em compartilhar um aspecto de saúde", exemplifica o sócio-diretor.
Caso não tenha abertura com seu líder direto, mas ainda queira compartilhar o que está acontecendo, pode procurar algum colega, com quem tenha mais proximidade, para relatar a situação, aconselha Nishiura. "Para você poder pegar algumas dicas de abertura, inclusive talvez essa pessoa consiga fazer o desenho de como levar essa informação a mais para o seu gestor principal" diz.
Importante: essa discussão não diz respeito à fazer uma separação total entre a vida pessoal e profissional.
"É muito difícil a gente entrar às 8h no trabalho e desligar tudo que aconteceu na vida e voltar à vida pessoal depois das 17h e 18h. É importante a gente ter essa oscilação e elas [vida pessoal e profissional] acabarem se complementando, desde que não haja nenhuma indisposição" aponta o sócio-diretor.
Para Nishiura, os colaboradores nunca devem deixar de respeitar autenticidade e jeito de ser no dia a dia, mas é preciso ter cautela. Ele avalia que é saudável compartilhar alguns aspectos pessoais, desde que haja um propósito, principalmente se for com o objetivo de criar relacionamentos de longo prazo e melhorar o dia a dia da equipe em que você trabalha.
De uma perspectiva psicológica, não é possível fazer essa separação completa. Segundo Teixeira, trazemos para o mercado de trabalho tudo aquilo que é negativo e positivo em nós. "Mas isso não significa que você vai utilizar tudo que você é dentro daquele espaço", diz.
Fonte: Folha de S.Paulo – Beatriz Pecinato. |