Um estudo realizado pela Pluxee, empresa de benefícios corporativos, descobriu que quase um terço dos trabalhadores brasileiros (28%) já mudou de emprego devido a problemas de saúde mental, e mais de um quinto (21%) considerou se afastar do trabalho pela mesma razão. O levantamento ouviu cerca de três mil profissionais de diferentes áreas.
A pesquisa também apontou que, embora quase metade dos respondentes (46%) se sinta motivada ao iniciar a semana, apenas 22% consideram sua carga de trabalho leve e não se sentem exaustos. Ao mesmo tempo, outros 22% descrevem seu expediente como pesado, caracterizado por períodos de sobrecarga.
Outro dado que chama a atenção está relacionado à capacidade de fazer pausas no trabalho. A maioria dos trabalhadores afirma enfrentar dificuldades para fazer pausas durante o expediente: apenas 40% pausam regularmente, enquanto o restante (60%) só o fazem quando possível ou raramente conseguem parar.
Na visão de Fabiana Galetol, diretora executiva de pessoas e responsabilidade social corporativa da Pluxee, manter o ritmo de trabalho sem respiro impacta a clareza mental, o equilíbrio emocional e a qualidade das entregas. “A pausa precisa deixar de ser vista como um intervalo e passar a ser entendida como parte integrante da produtividade saudável”, alerta. “Trabalhar sem parar não é sustentável, e já está nos custando caro, tanto em bem-estar quanto em performance”.
Segundo ela, a falta de pausas compromete diretamente a saúde emocional porque impede o cérebro de sair do modo de alerta constante. “Trabalhar sem interrupções pode parecer produtivo, mas, na prática, mina a concentração, reduz a criatividade e acelera o esgotamento. Essa sobrecarga se acumula até levar a um estado de fadiga crônica”, detalha.
Ainda de acordo com o estudo, 50% dos respondentes relatam se sentir exaustos algumas vezes por mês e 19% dizem ter essa sensação semanalmente. Também nessa linha, 41% dos entrevistados se sentem ansiosos em relação à pressão por produtividade.
“Não estamos mais diante de um desconforto pontual, mas de uma crise silenciosa”, define Galetol. “Falta acolhimento, propósito e segurança psicológica”.
O que fazer então?
Para mitigar os efeitos do excesso de trabalho e do estresse, os profissionais desejam ações de bem-estar que promovam um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado. Entre as práticas mais demandadas, destacam-se a jornada de trabalho mais flexível (46%), a redução da carga de trabalho e metas realistas (27%), o incentivo a pausas e descanso (26%) e a semana de trabalho de quatro dias (26%).
O uso de tecnologia também é bem-visto pelos trabalhadores para aliviar a pressão por produtividade, já que 33% acreditam que a inteligência artificial e a automação podem reduzir a sobrecarga de tarefas. “Esse tipo de solução pode reduzir a sobrecarga de tarefas operacionais e liberar tempo para que os colaboradores se concentrem no que realmente importa. Isso também é cuidar do bem-estar”, observa a diretora.
No entanto, a pesquisa identificou que somente 24% dos trabalhadores entrevistados percebem esforços e ações de saúde mental em suas empresas, enquanto um número quase igual (23%) sente que o tema é deixado de lado. Para Galetol, essa resistência muitas vezes vem de uma desconexão entre o discurso e a prática. “Fala-se muito sobre saúde mental, mas poucas ações realmente estruturadas chegam ao dia a dia das pessoas. E quando chegam, muitas vezes são pontuais, paliativas, e não fazem parte de uma estratégia integrada”, explica.
Outro ponto é o medo do tema, ela diz. “Ainda existe o receio de que abrir espaço para conversas sobre saúde emocional possa fragilizar a produtividade, mas é exatamente o oposto. Quando as pessoas se sentem seguras e reconhecidas, elas entregam mais, inovam mais e permanecem mais tempo na empresa”, pondera.
Na opinião da especialista, investir em bem-estar e autonomia é também investir em performance. O maior desafio, no entanto, ainda é cultural. “Muitas lideranças ainda operam sob modelos antigos, que associam controle à produtividade e presença à entrega. Só que o mundo mudou, e os trabalhadores também”, analisa.
“É preciso abandonar essa lógica de comando e controle e abraçar uma gestão mais humana, baseada em confiança, clareza de propósito e responsabilidade compartilhada", sugere. "Quando isso acontece, o resultado não é apenas um ambiente mais saudável, é também uma empresa mais preparada para inovar, atrair talentos e crescer de forma sustentável”.
Papel das empresas
Para promover um ambiente de trabalho mais saudável, Galetol afirma que é importante entender que não existe solução rápida. “Isso exige um compromisso contínuo e intencional, que envolve todos os níveis da organização”, resume. “O caminho começa com escuta genuína, passa pela revisão de metas e processos e chega à construção de espaços de escuta e de fala com confiança, onde os colaboradores possam ser quem são”.
Além disso, ela diz que é fundamental fortalecer a comunicação, a autonomia e o reconhecimento, já que esses são os elementos mais diretamente ligados à motivação e ao bem-estar no trabalho. “Quando uma pessoa entende o impacto do que faz e sente que pode exercer suas funções com clareza e apoio, ela naturalmente se engaja mais, e se desgasta menos”, elabora.
Fonte: Valor Econômico – Fernanda Gonçalves. |