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14 de agosto de 2025 - Ano 16 - Nº 842
Carreira
 

Mais da metade dos brasileiros não consegue fazer pausas no trabalho
Levantamento identificou sinais importantes de desgaste mental

Um estudo realizado pela Pluxee, empresa de benefícios corporativos, descobriu que quase um terço dos trabalhadores brasileiros (28%) já mudou de emprego devido a problemas de saúde mental, e mais de um quinto (21%) considerou se afastar do trabalho pela mesma razão. O levantamento ouviu cerca de três mil profissionais de diferentes áreas.

A pesquisa também apontou que, embora quase metade dos respondentes (46%) se sinta motivada ao iniciar a semana, apenas 22% consideram sua carga de trabalho leve e não se sentem exaustos. Ao mesmo tempo, outros 22% descrevem seu expediente como pesado, caracterizado por períodos de sobrecarga.

Outro dado que chama a atenção está relacionado à capacidade de fazer pausas no trabalho. A maioria dos trabalhadores afirma enfrentar dificuldades para fazer pausas durante o expediente: apenas 40% pausam regularmente, enquanto o restante (60%) só o fazem quando possível ou raramente conseguem parar.

Na visão de Fabiana Galetol, diretora executiva de pessoas e responsabilidade social corporativa da Pluxee, manter o ritmo de trabalho sem respiro impacta a clareza mental, o equilíbrio emocional e a qualidade das entregas. “A pausa precisa deixar de ser vista como um intervalo e passar a ser entendida como parte integrante da produtividade saudável”, alerta. “Trabalhar sem parar não é sustentável, e já está nos custando caro, tanto em bem-estar quanto em performance”.

Segundo ela, a falta de pausas compromete diretamente a saúde emocional porque impede o cérebro de sair do modo de alerta constante. “Trabalhar sem interrupções pode parecer produtivo, mas, na prática, mina a concentração, reduz a criatividade e acelera o esgotamento. Essa sobrecarga se acumula até levar a um estado de fadiga crônica”, detalha.

Ainda de acordo com o estudo, 50% dos respondentes relatam se sentir exaustos algumas vezes por mês e 19% dizem ter essa sensação semanalmente. Também nessa linha, 41% dos entrevistados se sentem ansiosos em relação à pressão por produtividade.

“Não estamos mais diante de um desconforto pontual, mas de uma crise silenciosa”, define Galetol. “Falta acolhimento, propósito e segurança psicológica”.

O que fazer então?

Para mitigar os efeitos do excesso de trabalho e do estresse, os profissionais desejam ações de bem-estar que promovam um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado. Entre as práticas mais demandadas, destacam-se a jornada de trabalho mais flexível (46%), a redução da carga de trabalho e metas realistas (27%), o incentivo a pausas e descanso (26%) e a semana de trabalho de quatro dias (26%).

O uso de tecnologia também é bem-visto pelos trabalhadores para aliviar a pressão por produtividade, já que 33% acreditam que a inteligência artificial e a automação podem reduzir a sobrecarga de tarefas. “Esse tipo de solução pode reduzir a sobrecarga de tarefas operacionais e liberar tempo para que os colaboradores se concentrem no que realmente importa. Isso também é cuidar do bem-estar”, observa a diretora.

No entanto, a pesquisa identificou que somente 24% dos trabalhadores entrevistados percebem esforços e ações de saúde mental em suas empresas, enquanto um número quase igual (23%) sente que o tema é deixado de lado. Para Galetol, essa resistência muitas vezes vem de uma desconexão entre o discurso e a prática. “Fala-se muito sobre saúde mental, mas poucas ações realmente estruturadas chegam ao dia a dia das pessoas. E quando chegam, muitas vezes são pontuais, paliativas, e não fazem parte de uma estratégia integrada”, explica.

Outro ponto é o medo do tema, ela diz. “Ainda existe o receio de que abrir espaço para conversas sobre saúde emocional possa fragilizar a produtividade, mas é exatamente o oposto. Quando as pessoas se sentem seguras e reconhecidas, elas entregam mais, inovam mais e permanecem mais tempo na empresa”, pondera.

Na opinião da especialista, investir em bem-estar e autonomia é também investir em performance. O maior desafio, no entanto, ainda é cultural. “Muitas lideranças ainda operam sob modelos antigos, que associam controle à produtividade e presença à entrega. Só que o mundo mudou, e os trabalhadores também”, analisa.

“É preciso abandonar essa lógica de comando e controle e abraçar uma gestão mais humana, baseada em confiança, clareza de propósito e responsabilidade compartilhada", sugere. "Quando isso acontece, o resultado não é apenas um ambiente mais saudável, é também uma empresa mais preparada para inovar, atrair talentos e crescer de forma sustentável”.

Papel das empresas

Para promover um ambiente de trabalho mais saudável, Galetol afirma que é importante entender que não existe solução rápida. “Isso exige um compromisso contínuo e intencional, que envolve todos os níveis da organização”, resume. “O caminho começa com escuta genuína, passa pela revisão de metas e processos e chega à construção de espaços de escuta e de fala com confiança, onde os colaboradores possam ser quem são”.

Além disso, ela diz que é fundamental fortalecer a comunicação, a autonomia e o reconhecimento, já que esses são os elementos mais diretamente ligados à motivação e ao bem-estar no trabalho. “Quando uma pessoa entende o impacto do que faz e sente que pode exercer suas funções com clareza e apoio, ela naturalmente se engaja mais, e se desgasta menos”, elabora.

Fonte: Valor Econômico – Fernanda Gonçalves.